E, porque vocês são filhos, Deus enviou o Espírito de seu Filho ao coração de vocês, e ele clama: “Aba, Pai”.
Gálatas 4.6
O movimento gospel dos
últimos anos tem formatado uma geração que chora nos momentos de louvor,
que chama de Deus de papai e que não lê mais a Bíblia. Tudo tão fácil,
tão diluído, tão pobre. Mas não é sobre o descaso com a Bíblia que quero
pensar com vocês, é sobre chamar de Deus de Abbá – papai querido, afinal, chamar Deus de papai é algo muito sério, pelo menos foi para Jesus.
Essa declaração sai muito fácil de
nossos lábios, e acabamos esquecendo as dimensões dela. É no falar de
Jesus Cristo que Deus é chamado de ABBÁ pela primeira vez, contudo, ele sabia o que e com quem estava falando. Jesus não estava seguindo uma tendência, pelo contrário, estava abrindo o caminho da oração e do louvor consciente.
Para entender as declarações de Jesus é
importante conhecer o ambiente histórico-cultural de sua época. Para
termos uma ideia, para os povos antigos, a palavra “pai” aplicada para a
divindade, evocava algo semelhante ao que a palavra mãe significa para
nós. No Antigo Testamento, Deus é chamado de Pai apenas catorze vezes,
mas cada uma delas é muito importante. Quando Deus é chamado de pai ele é
honrado como criador[1], ou seja, tinha-se a consciência de que Ele é o Senhor que merece obediência e o Pai que é misericordioso.
Israel acreditava que a paternidade divina era exclusividade sua[2],
contudo, é nos profetas que o conceito de Deus como Pai adquire todo o
seu sentido no Antigo Testamento. Através dos profetas somos informados
que a paternidade divina geralmente é correspondida com infidelidade da
parte de Israel. É a ingratidão diante da misericórdia.[3]
O judaísmo palestinense mantém o mesmo
significado do AT, é sóbrio em falar de Deus como Pai, onde seu amor e
sua misericórdia são a palavra final, contudo, nos tempos de Jesus, não
se tem registro de um indivíduo dirigindo-se a Deus como “meu Pai”, era
sempre uma invocação coletiva: “Nosso Pai, Nosso Rei”.
“Abbá” nas orações de Jesus.
Foi isso que Jesus fez, dirigiu-se a Deus como “meu Pai”[4], não foi somente isso que impressionou seus discípulos, o que chocou mesmo foi o fato de Jesus utilizar a palavra aramaica Abbá (o
acento está na última sílaba), visto esse termo fazer parte do balbucio
infantil. Mas você pode estar se perguntado, o que isso tem de mais? É
que referir-se a Deus como Abbá para o judaísmo palestinense era desrespeitoso. Portanto, invocar a Deus com um nome tão familiar era impensável.
Jesus abre o caminho para a intimidade
com Deus. Foi algo único o fato de “Jesus ter tomado essa iniciativa e
falar a Deus como uma criança fala a seu pai, com simplicidade,
intimidade e sem temor. Portanto, não há dúvida alguma de que a palavra Abbá, utilizada por Jesus para dirigir-se a Deus, revela o próprio fundamento de sua comunhão com ele.”[5]
As orações de Jesus influenciaram a comunidade cristã, tornando-se comum invocar a Deus como Abbá, Pai (Abbá, ho patér), e isso é ensinado pelo próprio Espírito Santo.[6] Portanto, somos autorizados a chamar Deus de papai: “As palavras de Jesus expressam simplesmente uma experiência cotidiana: só um pai e um filho é que se conhecem mutuamente”.[7]
Chamar Deus de Abbá é para quem vive o cotidiano com Ele, e não quem aprendeu o sucesso gospel do momento. Chamar Deus de Abbá é mais que friozinho na barriga e mãos levantadas, é compromisso e cruz!
[4] Todos os evangelhos são unânimes nessa afirmação. Somente no grito na cruz que Jesus não se serve do termo Abbá (Mc 15.34) [5] JEREMIAS, Joachim. Op. Cit. p. 25. [6] Gl 4.6. [7] JEREMIAS, Joachim. Op. Cit. p. 31.
Por Rodrigo Bibo de Aquino http://bibotalk.com.br
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