terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O Amor de Deus É Limitado aos Eleitos? Refutando um Desafio Calvinista ao Evangelho


A doutrina da expiação limitada é provavelmente o mais calorosamente debatido dos cinco pontos do Calvinismo entre os evangélicos. Ele é também o calcanhar de Aquiles do Calvinismo; sem ele os outros pontos caem.

O recente renascimento do Calvinismo entre os evangélicos trouxe à tona a questão da extensão da morte expiatória de Cristo na cruz. Muitos cristãos evangélicos simplesmente assumem que Cristo morreu por todos – que Ele carregou os pecados e sofreu a penalidade por cada pecador. Pelos últimos quatro séculos, entretanto, tem havido uma representação minoritária entre os protestantes. A maioria dos calvinistas, seguidores do reformador francês da Suíça, João Calvino (1509-1564), têm ensinado que Cristo suportou a penalidade somente pelos pecados dos eleitos – aqueles incondicionalmente predestinados por Deus para a salvação. Calvinistas contemporâneos (eles muitas vezes preferem ser chamados de cristãos reformados) chamam esta doutrina de “redenção particular” ou “expiação definida.”

Entre os defensores evangélicos contemporâneos da expiação limitada estão, mais notavelmente, R. C. Sproul e John Piper. Sproul (nascido em 1939) tem sido um influente apologista evangélico e teólogo reformado por grande parte da última metade do século 20. De sua base em seu Ministério Ligonier ele tem falado no rádio, viajado para discursar em muitas conferências teológicas e apologéticas e escreveu muitos livros – a maioria deles tratando da soberania de Deus a partir de uma perspectiva fortemente reformada.

Piper (nascido em 1946), pastor de Igreja Batista Bethlehem de Minneapolis, e fundador do Ministério Desiring God, também viaja muito e discursa em grandes encontros de cristãos evangélicos – incluindo as conferências Passionfrequentadas por milhares da maioria dos jovens e adolescentes batistas do sul. Ele é um prolífico autor cujos livros, incluindo Desiring God: Confessions of a Christian Hedonist (1986), têm vendido milhões de cópias. Como Sproul, Piper é um promotor apaixonado do Calvinismo de cinco pontos.

CALVINISMO DE CINCO PONTOS

O Calvinismo de cinco pontos é a crença nas doutrinas representadas pelo acróstico TULIP: depravação total, eleição incondicional, expiação limitada, graça irresistível e perseverança dos santos. Os calvinistas criaram o acróstico por volta de 1913, mas as “doutrinas da graça” que ele representa remontam ao sucessor de Calvino – Teodoro Beza (1519-1605) – diretor da Academia de Genebra (um seminário reformado em Genebra, Suíça, fundado por Calvino). A expiação limitada se encontra no centro deste sistema teológico. Sproul, Piper e muitos outros teólogos evangélicos contemporâneos influentes tenazmente mantêm e defendem esta posição.

EXPIAÇÃO LIMITADA

O que a expiação limitada ou redenção particular significa? De acordo com Sproul, que prefere chamar essa doutrina de “expiação designada,” ela significa que Deus pretendeu que a morte de Cristo na cruz assegurasse a salvação de um número definido de seres humanos caídos – aqueles escolhidos incondicionalmente por Deus. Como outros calvinistas, Sproul argumenta que a morte substitutiva de Cristo (isto é, Deus impôs sobre Cristo a penalidade pelos pecados merecida pelos pecadores) foi de valor suficiente para salvar a todos, mas Deus apenas pretendeu que ela salvasse os eleitos. No sentido mais significante, Cristo morreu apenas pelos eleitos e não por todos.

Para Sproul (e outros como ele), esta doutrina não é dispensável; ela é parte essencial do sistema TULIP que eles creem ser a única que faz justiça à soberania de Deus e à natureza do dom da salvação. Um argumento usado por Sproul, seguindo o teólogo puritano John Owen (1616-1683), é que, se Cristo morreu por todos igualmente, então todos são salvos. Afinal, como segue o argumento, seria injustiça de Deus punir os mesmos pecados duas vezes – uma vez impondo a penalidade sobre Cristo e outra vez ao enviar o pecador para o inferno.

Piper é igualmente apaixonado pela expiação limitada. Como Sproul, ele não a considera um ponto secundário da teologia. Em um artigo intitulado “For Whom Did Christ Die and What Did Christ Actually Achieve on the Cross for Those for Whom He Died?[1]Piper argumenta que não é o calvinista que limita a expiação, mas o não-calvinista que crê na expiação universal. A razão: Aqueles que creem na expiação universal devem dizer que a morte de Cristo na verdade não salvou ninguém, mas somente deu às pessoas a oportunidade de salvarem a si mesmas. Ou eles devem abraçar o universalismo.

Piper continua e argumenta que Cristo de fato morreu por todas as pessoas, mas não da mesma maneira. Todas as pessoas se beneficiam da morte de Cristo, por exemplo, recebendo certas bênçãos nesta vida que eles de outra forma não receberiam – mas somente os eleitos recebem dela o benefício da salvação.

Esta doutrina da expiação limitada é provavelmente o mais calorosamente debatido dos cinco pontos do Calvinismo entre os evangélicos. O teólogo evangélico Vernon Grounds, ex-presidente do Seminário Denver, atacou severamente a doutrina. Apontando para Jo 1.29; Rm 5.17-21; 11.32; 1Tm 2.6; Hb 2.9; e 1Jo 2.2, ele escreveu, “É preciso uma engenhosidade exegética que é outra coisa menos uma habilidade culta esvaziar estes textos de seu significado óbvio: é preciso uma engenhosidade exegética próxima de um sofisma negar sua explícita universalidade.”[2]É desnecessário dizer, muitos evangélicos, incluindo alguns calvinistas, acham essa doutrina repugnante.

BASE PARA A EXPIAÇÃO LIMITADA

Antes de explicar por que esta doutrina é repulsiva, será proveitoso ver as razões por que muitos calvinistas a têm em alta conta e a promovem tão apaixonadamente. Mais uma vez, o que é esta doutrina? É que Deus pretendeu que a morte de Jesus na cruz fosse uma propiciação (um sacrifício expiatório, substitutivo) apenas pelos pecados dos eleitos – aqueles que Deus escolheu salvar à parte de qualquer coisa que Ele vê neles ou sobre eles (exceto Sua escolha dessas pessoas para a Sua glória e boa vontade).

Por que alguém acreditaria nisso?

Os proponentes da expiação limitada apontam várias Escrituras: Jo 10.15; 17.6 e versículos semelhantes em Jo 10-17; Rm 8.32; Ef 5.25-27; Tt 2.14.

Os calvinistas usam Jo 10.15 para apoiar o seu ensino: “Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai, e dou a minha vida pelas ovelhas.” Muitos outros versículos em João dizem quase a mesma coisa – que Cristo deu a Sua vida por Suas ovelhas (isto é, Seus discípulos e todos os que viriam depois deles).

Os calvinistas também apontam Rm 8.32: “Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas?” Eles supõem que “todos nós” faz referência aos eleitos.

Ef 5.25-27 diz, “Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível.” Os calvinistas creem que esta passagem, como muitas outras, se refere apenas à igreja como o objeto do sacrifício purificador de Cristo.

Tt 2.14 diz: “O qual se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniquidade, e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras.” Os calvinistas acreditam que Paulo, o autor de Tito, parece restringir os benefícios salvadores da morte de Cristo ao “seu povo,” o que eles acreditam ser os eleitos.

Os calvinistas assumem que estes versículos e outros como eles ensinam que Cristo morreu somente por aqueles escolhidos por Deus para a salvação. Mas estes versículos não ensinam as crenças calvinistas. Em nenhum lugar a Bíblia explicitamente ensina esta doutrina calvinista.

Os calvinistas atribuem a estas passagens sua crença que Cristo morreu somente pela igreja, pelo Seu povo, por Suas ovelhas. Estes versículos não dizem que Cristo não morreu também pelos outros. E, como veremos, há muitas passagens que ensinam claramente que Cristo morreu por todos.

Há outra razão para os calvinistas crerem na expiação limitada. Se Cristo morreu igualmente por todos, eles alegam, então todos são salvos. Eles argumentam que aqueles que creem na expiação universal se defrontam com duas opções inevitáveis, mas biblicamente insustentáveis: ou a morte de Cristo salvou a todos ou ela não salvou ninguém. Este argumento é, no entanto, falacioso. A expiação universal não requer a salvação universal; ela somente requer a possibilidade de salvação universal.

É possível que os mesmos pecados sejam punidos duas vezes e é isso o que torna o inferno tão absolutamente trágico – ele é totalmente desnecessário. Deus pune com o inferno aqueles que rejeitam a substituição de Seu Filho. Uma analogia ajudará a tornar isto claro. Após a Guerra do Vietnã, o presidente Jimmy Carter concedeu uma anistia geral a todos os desertores que fugiram para o Canadá e outros locais. Por decreto presidencial eles estavam livres para voltar para casa. Alguns voltaram e outros não. Seu crime não era mais punível; mas alguns se recusaram a tirar proveito da anistia e puniram a si mesmos ficando longe de casa e da família. Os crentes na expiação universal creem que Deus permite aos pecadores recusarem o benefício da cruz de Cristo para sofrerem a punição do inferno apesar do fato dele ser totalmente desnecessário.

Talvez a razão apresentada mais retoricamente poderosa para a expiação limitada seja aquela oferecida por John Piper (e outros calvinistas antes dele) que diz em For Whom Did Christ Die? que aqueles que creem na expiação universal “devem dizer” que a morte de Cristo na verdade não salvou ninguém, mas somente deu às pessoas uma oportunidade de salvarem a si mesmas. Este é um raciocínio totalmente falacioso.

Os arminianos (aqueles que seguem Tiago Armínio na rejeição da eleição incondicional, da expiação limitada e da graça irresistível) creem que a morte de Cristo na cruz salva todos que a recebem pela fé. A morte de Cristo assegura a salvação destes – tanto quanto assegura a salvação dos eleitos no Calvinismo. Ela garante que qualquer um que vai a Cristo em fé será salvo por Sua morte. Isto não implica que eles salvam a si mesmos. Isso simplesmente significa que eles aceitaram a obra de Cristo em seu favor.

RESPONDENDO AO CALVINISMO

É difícil resistir à impressão de que os calvinistas que creem na expiação limitada assim o fazem não por claras razões bíblicas, mas porque eles acham que a Escritura a permite e a razão a exige. Não há nada necessariamente errado com isso, mas no mínimo alguns calvinistas como Piper têm criticado outros por fazerem o mesmo.[3] Piper critica outros por alegadamente abraçarem doutrinas somente porque a Escritura as permite e a lógica as exige. Parece a muitos não-calvinistas, no entanto, que os crentes na expiação limitada fazem exatamente isso. Carecendo de claro e inequívoco apoio bíblico para esta doutrina, eles a abraçam porque acham que a Escritura a permite e o seu sistema TULIP logicamente a exige. Afinal, se a eleição é incondicional e a graça é irresistível, então parece que a expiação seria somente para os eleitos.

A Escritura contradiz a expiação limitada em Jo 3.16, 17; Rm 14.15; 2Co 5.18-19; Cl 1.19, 20; 1Tm 2.5, 6; 1Jo 2.2. Todos conhecem Jo 3.16, 17: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.” Tipicamente, os calvinistas respondem que nestes versículos “mundo” faz referência a todos os tipos de pessoas e não a todos. Entretanto, isso tornaria possível interpretar todas as passagens onde o Novo Testamento conta que o “mundo” é pecador e caído no sentido de que somente algumas pessoas – todos os tipos – são pecadoras e caídas. A interpretação calvinista de Jo 3.16, 17 parece se encaixar na descrição de Vernon Grounds de exegese defeituosa usada para defender a expiação limitada.

1Jo 2.2 é outra passagem que não podemos reconciliar com a expiação limitada: “E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.” Esta passagem enfraquece completamente a interpretação calvinista de “mundo” em Jo 3.16, 17 porque ela explicitamente afirma que Cristo morreu uma morte expiatória não somente pelos crentes, mas também por todos. Aqui “mundo” deve incluir os não crentes porque “nosso” se refere aos crentes. Este versículo torna impossível dizer que a morte de Cristo beneficia a todos, só que não da mesma maneira (Piper diz que a morte de Cristo beneficia os não-eleitos dando-lhes somente bênçãos temporais). João diz clara e inequivocamente que o sacrifício expiatório de Cristo foi pelos pecados de todos – inclusive daqueles que não são crentes.

E quanto a 2Co 5.18-19? “E tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação; isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação.” Os calvinistas às vezes argumentam que esta passagem dá apoio à expiação limitada. Afinal, se Deus estava em Cristo não imputando os pecados de todos, então todos são salvos. Portanto, eles dizem, “todos” deve significar somente os eleitos. Mas isso não é verdadeiro. Quando Paulo diz que Deus estava reconciliando o mundo consigo, não imputando os pecados das pessoas contra elas, ele quer dizer se elas se arrependerem e crerem. Em outras palavras, a expiação reconciliou Deus com o mundo para que Ele pudesse perdoá-lo; isso satisfez as demandas da justiça para que da parte de Deus a reconciliação fosse possível. Mas resta aos pecadores aceitar isso pela fé. Então a plena reconciliação acontece.

Cl 1.19, 20, diz, “Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse, e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus.” É impossível interpretar “todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus” como se referindo somente aos eleitos. Esta passagem refuta a expiação limitada. Igualmente faz 1Tm 2.5, 6: “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem. O qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos.” A única maneira de um crente na expiação limitada conseguir escapar da força desta passagem é interpretar o grego traduzido como “todos os homens” como de alguma forma significando “todos os tipos de homens,” mas essa não é uma interpretação permitida pelo uso comum da expressão na literatura grega fora do Novo Testamento (ou em outro lugar nele).

Muitas Escrituras indicam claramente que o sacrifício expiatório de Jesus foi pretendido para todos, que Sua punição substitutiva foi por todas as pessoas. Mas há duas passagens raramente discutidas do Novo Testamento que absolutamente destroem a expiação limitada: Rm 14.15 e 1Co 8.11. Nestes versículos, Paulo severamente adverte os cristãos contra levar pessoas por quem Cristo morreu à destruição. A tradução grega das palavras “destruir” e “destruído” nestes versículos não pode significar meramente prejudicado ou ferido. Paulo claramente está advertindo as pessoas de que é possível levar as pessoas por quem Cristo morreu ao inferno (levando-as a tropeçarem e cairem pela demonstração de sua liberdade própria para comer carne sacrificada aos ídolos). Se o Calvinismo da TULIP está correto, esta advertência é inútil, porque isso não pode acontecer. De acordo com o Calvinismo, os eleitos, por quem Cristo morreu, não podem se perder.

O peso da Escritura é claramente oposto à expiação limitada. As interpretações calvinistas destas e de passagens semelhantes faz recordar o sinal do lado de fora de uma ferraria se referindo ao seu trabalho artístico com metais: “Todos os tipos imagináveis de torção e torneamento são feitos aqui.” Entretanto, o problema com a expiação limitada vai além de alguns versículos que os calvinistas não podem explicar sem distorcer seus claros significados. O maior problema atinge o cerne da doutrina de Deus. Quem é Deus e como ele é?

EXPIAÇÃO LIMITADA E A NATUREZA DE DEUS

Se Deus é amor (1Jo 4.7), mas pretendeu que a morte expiatória de Cristo fosse a propiciação somente para algumas pessoas de forma que somente elas têm alguma chance de serem salvas, então o “amor” não tem nenhum significado inteligível quando se refere a Deus. Todos os cristãos concordam que Deus é amor. Mas os crentes na expiação limitada devem interpretar o amor de Deus como de alguma forma compatível com Deus incondicionalmente selecionando algumas pessoas para o tormento eterno no inferno quando Ele poderia salvá-las (porque a eleição para a salvação, e assim a própria salvação, é incondicional). Não há analogia na existência humana para este tipo de comportamento que é considerado como amoroso. Nós nunca consideraríamos como amoroso alguém que, por exemplo, podendo resgatar pessoas se afogando, se recusa a fazê-lo e resgata somente algumas. Consideraríamos tal pessoa má, mesmo se as pessoas resgatadas apreciassem o que a pessoa fez por elas.

Os calvinistas tipicamente lidam com isso de duas maneiras. Alguns dizem que o amor de Deus é diferente do nosso amor. Mas se ele é tão diferente, ele é ininteligível. Se o “amor” de Deus não tem semelhança com algo que chamaríamos de amor, se ele se assemelha mais ao ódio do que ao amor, então ele perde todo o significado. Então, quando uma pessoa diz que Deus é amor, ela poderia também estar usando uma palavra sem sentido como “creech” – Deus é creech. Também, onde Deus melhor demonstrou o Seu amor do que em Jesus Cristo? Mas o amor de Jesus Cristo pelas pessoas é arbitrário e odioso a algumas? Ou Jesus Cristo em Seu amor por todas as pessoas revela o coração de Deus? O Calvinismo acaba tendo que pressupor um Deus oculto, muito diferente de Jesus Cristo.

A outra maneira dos calvinistas lidarem com o amor de Deus e tentar reconciliá-lo com a expiação limitada e a dupla predestinação (as duas são realmente inseparáveis) é dizer que Deus ama todas as pessoas de alguma forma, mas somente algumas (os eleitos) de todas as formas. Piper, por exemplo, exalta o amor de Deus por todos – até mesmo ao não-eleito. Ele diz que Deus concede bênçãos temporais sobre os não-eleitos – isto é, conforme eles se movem em direção ao seu tormento eterno predestinado no inferno. John Wesley, respondendo a uma alegação similar dos calvinistas de sua época, ironizou dizendo que este é o tipo de amor que faz o sangue gelar nas veias. Uma outra resposta é que isso simplesmente significa que Deus dá aos não-eleitos um pouco do céu para levar com eles em sua jornada ao inferno. Que tipo de amor é esse – que dá bênçãos temporais e felicidade às pessoas escolhidas por Deus para o sofrimento eterno no inferno? Afinal, se o Calvinismo está correto, não há nada impedindo Deus de escolher todas as pessoas para o céu, exceto, alguns dizem, a Sua própria glória. Alguns calvinistas dizem que Deus deve manifestar todos os Seus atributos e um atributo é a justiça que torna o inferno necessário. Mais uma vez, no entanto, isso não funciona, porque a cruz foi uma manifestação suficiente da justiça de Deus.

A expiação limitada torna o evangelismo indiscriminado impossível. Um crente na expiação limitada nunca pode dizer a algum estranho ou grupo aleatório: “Deus ama vocês e Cristo morreu pelos seus pecados e pelos meus; vocês podem ser salvos.” Todavia, esta é a própria força vital do evangelismo – contar as boas novas a todos e convidá-los a virem a Jesus Cristo em arrependimento e fé. Muitos calvinistas são inclinados ao evangelismo e às missões, mas em seu evangelismo e missões eles não podem dizer a todos no alcance de suas vozes que Deus os ama, que Jesus morreu por eles e que Ele quer que eles sejam salvos. Eles podem proclamar o evangelho (como eles o interpretam), mas não podem requerer fé prometendo-lhes salvação através de Cristo a todos que eles encontram ou a quem eles pregam.

A expiação limitada é o calcanhar de Aquiles do Calvinismo TULIP; sem ela os outros pontos da TULIP caem. Se Deus é verdadeiramente amor, então Cristo morreu por todos para que todos possam ser salvos.

Extraido do site http://www.arminianismo.com
Tradução: Cloves Rocha dos Santos

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Inicio de um Pequeno Sonho

Meio sem tempo mas cheio de vontade de compartilhar meus pensamentos, vou tentar a iniciar a escrever meus próprios artigos, sem um compromisso, mas com um proposito ardente de servir a Deus também por este blog. Já tenho a algum tempo esta pagina e de vez em quando coloco textos de outras fontes que acho interessante divulgar, mas a algum tempo sinto a necessidade de compartilhar aquilo que tenho pensado e estudando nos últimos tempos.
Pois  bem, ai vai (Risos), espero ser mais uma ferramenta da igreja aqui e que possa ser impulsionado a fazer algo mais para Deus e proclamar o evangelho para aqueles que tem uma outra posição de fé e criar ferramentas para nossos irmãos de fé. Compartilhando ideias e propondo artigos e estudos para o crescimento do Reino de Deus nesta terra.
Espero não decepcionar os leitores mas alegra-los sempre com algo novo. Ainda não me considero um teólogo pois acredito que tenho muito a percorrer, mas tenho a minha posição dentro da corrente teológica dos reformadores da igreja.
Conto com a ajuda de todos e que eu possa colocar textos para edifica-los e instrui-los no caminho da Verdade em Cristo Jesus.

Graça e Paz! a todos....

segunda-feira, 30 de abril de 2012

São Jorge: A Historia Verdadeira

Em torno do século III D.C., quando Diocleciano era imperador de Roma, havia nos domínios do seu vasto Império um jovem soldado chamado Jorge de Anicii. Filho de pais cristãos, converteu-se a Cristo ainda na infância, quando passou a temer a Deus e a crer em Jesus como seu único e suficiente salvador pessoal. Nascido na antiga Capadócia, região que atualmente pertence à Turquia, Jorge mudou-se para a Palestina com sua mãe, após a morte de seu pai. Tendo ingressado para o serviço militar, distinguiu-se por sua inteligência, coragem, capacidade organizativa, força física e porte nobre. Foi promovido a capitão do exército romano devido a sua dedicação e habilidade.


Tantas qualidades chamaram a atenção do próprio Imperador, que decidiu lhe conferir o título de Conde. Com a idade de 23 anos passou a residir na corte imperial em Roma, exercendo altas funções. Nessa mesma época, o Imperador Diocleciano traçou planos para exterminar os cristãos. No dia marcado para o senado confirmar o decreto imperial, Jorge levantou-se no meio da reunião declarando-se espantado com aquela decisão, e afirmou que os os ídolos adorados nos templos pagãos eram falsos deuses. Todos ficaram atônitos ao ouvirem estas palavras de um membro da suprema corte romana, defendendo com grande coragem sua fé em Jesus Cristo como Senhor e salvador dos homens.


Indagado por um cônsul sobre a origem desta ousadia, Jorge prontamente respondeu-lhe que era por causa da VERDADE. O tal cônsul, não satisfeito, quis saber: "O QUE É A VERDADE?". Jorge respondeu: "A verdade é meu Senhor Jesus Cristo, a quem vós perseguis, e eu sou servo de meu redentor Jesus Cristo, e nEle confiado me pus no meio de vós para dar testemunho da Verdade." Como Jorge mantinha-se fiel a Jesus, o Imperador tentou fazê-lo desistir da fé torturando-o de vários modos. E, após cada tortura, era levado perante o Imperador, que lhe perguntava se renegaria a Jesus para adorar os ídolos. Porém, este santo homem de DEUS jamais abriu mão de suas convicções e de seu amor ao SENHOR Jesus. Todas as vezes em que foi interrogado, sempre declarou-se servo do DEUS Vivo, mantendo seu firme posicionamento de somente a Ele temer e adorar.


Em seu coração, Jorge de Capadócia discernia claramente o própósito de tudo o que lhe ocorria: “... vos hão de prender e perseguir, entregando-vos às sinagogas e aos cárceres, e conduzindo-vos à presença de reis e governadores, por causa do meu nome. Isso vos acontecerá para que deis testemunho”. (Lucas 21.12:13 – Grifo nosso). A fé deste servo de DEUS era tamanha que muitas pessoas passaram a crer em Jesus e confessa-lo como SENHOR por intermédio da pregação do jovem soldado romano. Durante seu martírio, Jorge mostrou-se tão confiante em Cristo Jesus e na obra redentora da cruz, que a própria Imperatriz alcançou a Graça da salvação eterna, ao entregar sua vida ao SENHOR. Seu testemunho de fidelidade e amor a DEUS arrebatou uma geração de incrédulos e idólatras romanos.
Por fim, Diocleciano mandou degolar o jovem e fiel discípulo de Jesus, em 23 de abril de 303. Logo a devoção a “São” Jorge tornou-se popular. Celebrações e petições a imagens que o representavam se espalharam pelo Oriente e, depois das Cruzadas, tiveram grande entrada no Ocidente. Além disso, muitas lendas foram se somando a sua história, inclusive aquela que diz que ele enfrentou e amansou um dragão que atormentava uma cidade...


Em 494, a idolatria era tamanha que a Igreja Católica o canonizou, estabelecendo cultos e rituais a serem prestados em homenagem a sua memória. Assim, confirmou-se a adoração a Jorge, até hoje largamente difundida, inclusive em grandes centros urbanos, como a cidade do Rio de Janeiro, onde desde 2002 faz-se feriado municipal na data comemorativa de sua morte.


Jorge é cultuado através de imagens produzidas em esculturas, medalhas e cartazes, onde se vê um homem vestindo uma capa vermelha, montado sobre um cavalo branco, atacando um dragão com uma lança. E ironicamente, o que motivou o martírio deste homem foi justamente sua batalha contra a adoração a ídolos...


Apesar dos engano e da cegueria espiritual das gerações seguintes, o fato é que Jorge de Capadócia obteve um testemunho reto e santo, que causou impacto e ganhou muitas almas para o SENHOR. Por amor ao Evangelho, ele não se preocupou em preservar a sua própria vida; em seu íntimo, guardava a Palavra: “ ...Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte” (Filipenses 1.20). Deste modo, cumpriu integralmente o propósito eterno para o qual havia nascido: manifestou o caráter do SENHOR e atraiu homens e mulheres para Cristo, estendendo a salvação a muitos perdidos.


Se você é devoto deste celebrado mártir da fé cristã, faça como ele e atribua toda honra, glória e louvor exclusivamente a Jesus Cristo, por quem Jorge de Capadócia viveu e morreu. Para além das lendas que envolvem seu nome, o grande dragão combatido por ele foi a idolatria que infelizmente hoje impera em torno de seu nome.


Fonte:

terça-feira, 24 de abril de 2012

Discurso de Martin Luther King - Eu tive um sonho

Discurso de Martin Luther King (28/08/1963)
 "Eu estou contente em unir-me com vocês no dia que entrará para a história como a maior
demonstração pela liberdade na história de nossa nação.
 Cem anos atrás, um grande americano, na qual estamos sob sua simbólica sombra, assinou a
Proclamação de Emancipação. Esse importante decreto veio como um grande farol de
esperança para milhões de escravos negros que tinham murchados nas chamas da injustiça.
Ele veio como uma alvorada para terminar a longa noite de seus cativeiros. Mas cem anos
depois, o Negro ainda não é livre.
 Cem anos depois, a vida do Negro ainda é tristemente inválida pelas algemas da segregação
e as cadeias de discriminação.
Cem anos depois, o Negro vive em uma ilha só de pobreza no meio de um vasto oceano de
prosperidade material. Cem anos depois, o Negro ainda adoece nos cantos da sociedade
americana e se encontram exilados em sua própria terra. Assim, nós viemos aqui hoje para
dramatizar sua vergonhosa condição.
 De certo modo, nós viemos à capital de nossa nação para trocar um cheque. Quando os
arquitetos de nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e a Declaração da Independência, eles estavam assinando uma nota promissória para a qual todo
americano seria seu herdeiro. Esta nota era uma promessa que todos os homens, sim, os
homens negros, como também os homens brancos, teriam garantidos os direitos inalienáveis
de vida, liberdade e a busca da felicidade. Hoje é óbvio que aquela América não apresentou
esta nota promissória. Em vez de honrar esta obrigação sagrada, a América deu para o povo
negro um cheque sem fundo, um cheque que voltou marcado com "fundos insuficientes".
 Mas nós nos recusamos a acreditar que o banco da justiça é falível. Nós nos recusamos a
acreditar que há capitais insuficientes de oportunidade nesta nação. Assim nós viemos trocar
este cheque, um cheque que nos dará o direito de reclamar as riquezas de liberdade e a
segurança da justiça.
 Nós também viemos para recordar à América dessa cruel urgência. Este não é o momento
para descansar no luxo refrescante ou tomar o remédio tranqüilizante do gradualismo.
 Agora é o tempo para transformar em realidade as promessas de democracia.
 Agora é o tempo para subir do vale das trevas da segregação ao caminho iluminado pelo sol
da justiça racial.
 Agora é o tempo para erguer nossa nação das areias movediças da injustiça racial para a
pedra sólida da fraternidade
 Agora é o tempo para fazer da justiça uma realidade para todos os filhos de Deus.
 Seria fatal para a nação negligenciar a urgência desse momento. Este verão sufocante do
legítimo descontentamento dos Negros não passará até termos um renovador outono de
liberdade e igualdade. Este ano de 1963 não é um fim, mas um começo. Esses que esperam
que o Negro agora estará contente, terão um violento despertar se a nação votar aos negócios
de sempre.
 Mas há algo que eu tenho que dizer ao meu povo que se dirige ao portal que conduz ao
palácio da justiça. No processo de conquistar nosso legítimo direito, nós não devemos ser
culpados de ações de injustiças. Não vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo da
xícara da amargura e do ódio. Nós sempre temos que conduzir nossa luta num alto nível de
dignidade e disciplina. Nós não devemos permitir que nosso criativo protesto se degenere em
violência física. Novamente e novamente nós temos que subir às majestosas alturas da reunião
da força física com a força de alma. Nossa nova e maravilhosa combatividade mostrou à
comunidade negra que não devemos ter uma desconfiança para com todas as pessoas
brancas, para muitos de nossos irmãos brancos, como comprovamos pela presença deles aqui
hoje, vieram entender que o destino deles é amarrado ao nosso destino. Eles vieram perceber
que a liberdade deles é ligada indissoluvelmente a nossa liberdade. Nós não podemos
caminhar só.
 E como nós caminhamos, nós temos que fazer a promessa que nós sempre marcharemos à
frente. Nós não podemos retroceder. Há esses que estão perguntando para os devotos dos
direitos civis, "Quando vocês estarão satisfeitos?"
 Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos horrores indizíveis da
brutalidade policial. Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto nossos corpos, pesados com a fadiga da viagem, não poderem ter hospedagem nos motéis das estradas e os hotéis das
cidades. Nós não estaremos satisfeitos enquanto um Negro não puder votar no Mississipi e um
Negro em Nova Iorque acreditar que ele não tem motivo para votar. Não, não, nós não
estamos satisfeitos e nós não estaremos satisfeitos até que a justiça e a retidão rolem abaixo
como águas de uma poderosa correnteza.
 Eu não esqueci que alguns de você vieram até aqui após grandes testes e sofrimentos. Alguns
de você vieram recentemente de celas estreitas das prisões. Alguns de vocês vieram de áreas
onde sua busca pela liberdade lhe deixaram marcas pelas tempestades das perseguições e
pelos ventos de brutalidade policial. Você são o veteranos do sofrimento. Continuem
trabalhando com a fé que sofrimento imerecido é redentor. Voltem para o Mississippi, voltem
para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para Louisiana,
voltem para as ruas sujas e guetos de nossas cidades do norte, sabendo que de alguma
maneira esta situação pode e será mudada. Não se deixe caiar no vale de desespero.
 Eu digo a você hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e
amanhã. Eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho
americano.
 Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de
sua crença - nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens
são criados iguais.
 Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes
de escravos e os filhos dos desdentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa
da fraternidade.
 Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que transpira
com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado em um
oásis de liberdade e justiça.
 Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação
onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um
sonho hoje!
 Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu
governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia no
Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e
meninas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje!
 Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão
abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a
glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta.
 Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé nós
poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de
fraternidade. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, para ir
encarcerar juntos, defender liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia livre. Este será
o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo
significado.
"Meu país, doce terra de liberdade, eu te canto.
Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos,
De qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!"
E se a América é uma grande nação, isto tem que se tornar verdadeiro.
E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha de New Hampshire.
Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas poderosas de Nova York.
Ouvirei o sino da liberdade nos engrandecidos Alleghenies da Pennsylvania.
Ouvirei o sino da liberdade nas montanhas cobertas de neve Rockies do Colorado.
Ouvirei o sino da liberdade nas ladeiras curvas da Califórnia.
Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia.
Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Vigilância do Tennessee.
Ouvirei o sino da liberdade em todas as colinas do Mississipi.
Em todas as montanhas, ouviu o sino da liberdade.
 E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós
deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós
poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens
brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras
do velho spiritual negro:
 "Livre afinal, livre afinal.
 Agradeço ao Deus todo-poderoso, nós somos livres afinal."

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Teologia Raul Seixas e o Evangelho “maluco beleza”

É fato conhecido que um dos pioneiros do rock nacional, que fez muito sucesso há cerca de três décadas, foi o controvertido Raul Seixas. Numa mistura de protesto e busca por respostas para a vida, o conhecido “Raulzito” causou a mais diversificada reação em todo o país.

Pouca gente sabe que o falecido roqueiro conheceu o Evangelho de Cristo. Chegou até mesmo a ter um filho com sua primeira companheira, que era filha de um missionário norte-americano. Todavia, a perspectiva panteísta e agnóstica de Raul Seixas mostrou que o famoso cantor não abriu o coração para a mensagem do Evangelho. Sua morte não deixa dúvidas sobre isso!

Por incrível que pareça, se Raul Seixas não se deixou influenciar pelas boas novas de Jesus, parece-me que suas idéias estão cada vez mais presentes na realidade evangélica contemporânea. Será possível que estamos caminhando para uma “teologia do Raul Seixas”? Será que teremos um evangelho “maluco beleza”? O amigo leitor pode dar sua própria opinião.

Enquanto as Escrituras deixam claro que existe apenas um Deus verdadeiro, que está acima de sua criação (Is 44.6; Rm 1.18-21), a perspectiva panteísta aparece expressa na música “Gita”, de Raul. Ele afirmava: 

“Eu sou a luz das estrelas / 
A mãe, o pai e o avô / 
O filho que ainda não veio / 
O início, o fim e o meio.”

Este enfoque tenta tirar de Deus a glória que só Ele tem e merece. De modo geral, o panteísmo que deifica a natureza acaba definindo como categoria suprema o fluxo do movimento. Heráclito sorriria no túmulo. Tais idéias, muito presentes nos filmes norte-americanos mais populares, parecem emergir do conceito de que Deus é uma energia, “um fluir” (unção?). Em certos redutos evangélicos já se pode perceber que Deus se tornou “um poder manipulável” por “comandos determinadores”. Além disso, o enfoque da teologia do processo, que já nos influencia com todos os seus desdobramentos específicos, também diminui Deus e o coloca sob o domínio do “fluxo do tempo”, sugerindo que Ele é apenas nosso sócio na construção da história.

METAMORFOSE AMBULANTE

A idéia da supremacia do fluxo do tempo desemboca na rejeição de outras categorias fixas. A única categoria é o próprio tempo, o novo senhor absoluto. Com esse pressuposto, já não podemos ter teologia e ética definidas e claras. Embora a Bíblia seja um livro de orientações muito cristalinas sobre Deus, a salvação e o propósito da vida (2 Tm 3.16,17; 2 Pe 1.19-21), para muitos evangélicos, a teologia “maluco beleza” é preferível.

Como diria Raul: 

“Eu prefiro ser esta metamorfose ambulante / 
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.” 


Se uma opinião for antiga, deve ser rejeitada! Há uma crise doutrinária e teológica em boa parte do meio evangélico. Muitas pessoas adotam hoje idéias liberais, místicas e extremistas sem a devida avaliação. Nesse caso, não importa sua fundamentação teológica, histórica e lógica. Viva a metamorfose!

Tal sensação de indefinição, presente no pensamento do roqueiro tupiniquim, ajudou a formar seu perfil estranho, controvertido e até mesmo bizarro. Não é que um grupo significativo de evangélicos também já tem se aproximado do esdrúxulo?! Há um certo desprezo pela reflexão, pela teologia, e o crescimento de práticas risíveis e simplesmente inacreditáveis. Será que podemos ouvir o eco da música de Raul ao contemplar grande parte do chamado meio evangélico atual? Será que estamos diante do

 “Contemplando a minha maluquez / 
Misturada com minha lucidez”? 

Até onde vai a nossa “maluquez”? Será que voltaremos à lucidez? Será que muitas reuniões religiosas de hoje estão nos deixando, “com certeza, maluco beleza”? Espero que essa sensação seja um exagero! Todavia, temo que não seja!

Não faz tanto tempo assim, os cristãos evangélicos entendiam que um culto de adoração a Deus tinha, de fato, Deus como o centro do culto. Muitos cânticos tinham letra elaborada, teologia saudável e enfatizavam os atributos e os atos de Deus. No entanto, em algumas reuniões dominicais de hoje, temo que o foco esteja sendo mudado. Novas canções falam de um amor quase romântico e indefinido, divertem a massa, exaltam unção, montanhas, Jerusalém, guerra etc. O conceito de dedicar o domingo para uma diversão sem propósito e finalidade bíblica é manifesta na teologia do Raul Seixas. Como ele mesmo dizia: 

“Eu devia estar contente pelo Senhor ter me concedido o domingo
 para ir ao jardim zoológico dar pipocas aos macacos”. 

Será que já podemos observar “uma fauna evangélica com suas macaquices litúrgicas”? Tomara que não! Espero que tudo que escrevo não passe de uma análise exagerada! Todavia, temo que não.

Como todo enfoque teológico, o pensamento do “teólogo-músico pós-ortodoxo” nacional, também possui as suas decorrências de ordem prática. Não há como fugir da realidade. A forma de pensar e ver o mundo influencia e determina a vida prática de qualquer pessoa. A verdade é que se adotarmos uma base panteísta, um pensamento relativista, uma ética indefinida e práticas místicas emocionalistas sem conteúdo, não chegaremos a lugar nenhum. E não é que o “grande teólogo-roqueiro” já sabia disso! Quem pode lembrar de sua “perspectiva teleológica” que determinou seu trágico fim?

 “Este caminho que eu mesmo escolhi /
 É tão fácil seguir/ Por não ter onde ir.”

Se a igreja evangélica brasileira desvalorizar a doutrina bíblica, desprezar a teologia, deixar de lado a ética e afundar-se no misticismo e nas novidades ideológicas frágeis, logo ela descobrirá que esse é um caminho “tão fácil de seguir”. O grande problema é que no final das contas “não teremos para onde ir”.

Mais do que nunca, precisamos desesperadamente voltar nossa atenção para as Escrituras Sagradas, com o verdadeiro desejo de obedecer a Deus e à sua verdade. Que Deus nos abençoe.


Luiz Sayão é pastor batista e hebraísta e produtor da série Rota 66. Visite e conheça!


Fonte: http://www.genizahvirtual.com

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Abbá Pai e a Ignorância


E, porque vocês são filhos, Deus enviou o Espírito de seu Filho ao coração de vocês, e ele clama: “Aba, Pai”.
Gálatas 4.6
O movimento gospel dos últimos anos tem formatado uma geração que chora nos momentos de louvor, que chama de Deus de papai e que não lê mais a Bíblia. Tudo tão fácil, tão diluído, tão pobre. Mas não é sobre o descaso com a Bíblia que quero pensar com vocês, é sobre chamar de Deus de Abbá – papai querido, afinal, chamar Deus de papai é algo muito sério, pelo menos foi para Jesus. 
Essa declaração sai muito fácil de nossos lábios, e acabamos esquecendo as dimensões dela. É no falar de Jesus Cristo que Deus é chamado de ABBÁ pela primeira vez, contudo, ele sabia o que e com quem estava falando. Jesus não estava seguindo uma tendência, pelo contrário, estava abrindo o caminho da oração e do louvor consciente.
Para entender as declarações de Jesus é importante conhecer o ambiente histórico-cultural de sua época. Para termos uma ideia, para os povos antigos, a palavra “pai” aplicada para a divindade, evocava algo semelhante ao que a palavra mãe significa para nós. No Antigo Testamento, Deus é chamado de Pai apenas catorze vezes, mas cada uma delas é muito importante. Quando Deus é chamado de pai ele é honrado como criador[1], ou seja, tinha-se a consciência de que Ele é o Senhor que merece obediência e o Pai que é misericordioso.
Israel acreditava que a paternidade divina era exclusividade sua[2], contudo, é nos profetas que o conceito de Deus como Pai adquire todo o seu sentido no Antigo Testamento. Através dos profetas somos informados que a paternidade divina geralmente é correspondida com infidelidade da parte de Israel. É a ingratidão diante da misericórdia.[3]
O judaísmo palestinense mantém o mesmo significado do AT, é sóbrio em falar de Deus como Pai, onde seu amor e sua misericórdia são a palavra final, contudo, nos tempos de Jesus, não se tem registro de um indivíduo dirigindo-se a Deus como “meu Pai”, era sempre uma invocação coletiva: “Nosso Pai, Nosso Rei”.
Abbá” nas orações de Jesus.
Foi isso que Jesus fez, dirigiu-se a Deus como “meu Pai”[4], não foi somente isso que  impressionou seus discípulos, o que chocou mesmo foi o fato de Jesus utilizar a palavra aramaica Abbá (o acento está na última sílaba), visto esse termo fazer parte do balbucio infantil. Mas você pode estar se perguntado, o que isso tem de mais? É que referir-se a Deus como Abbá para o judaísmo palestinense era desrespeitoso. Portanto, invocar a Deus com um nome tão familiar era impensável.
Jesus abre o caminho para a intimidade com Deus. Foi algo único o fato de “Jesus ter tomado essa iniciativa e falar a Deus como uma criança fala a seu pai, com simplicidade, intimidade e sem temor. Portanto, não há dúvida alguma de que a palavra Abbá, utilizada por Jesus para dirigir-se a Deus, revela o próprio fundamento de sua comunhão com ele.”[5]
As orações de Jesus influenciaram a comunidade cristã, tornando-se comum invocar a Deus como Abbá, Pai (Abbá, ho patér), e isso é ensinado pelo próprio Espírito Santo.[6] Portanto, somos autorizados a chamar Deus de papai: “As palavras de Jesus expressam simplesmente uma experiência cotidiana: só um pai e um filho é que se conhecem mutuamente”.[7]
Chamar Deus de Abbá é para quem vive o cotidiano com Ele, e não quem aprendeu o sucesso gospel do momento. Chamar Deus de Abbá é mais que friozinho na barriga e mãos levantadas, é compromisso e cruz!

[1] Dt 32.6; Ml 2.10.[2] Dt. 14.1s.[3] Ml 1.6; Jr 3.19s; Is 64.7.
[4] Todos os evangelhos são unânimes nessa afirmação. Somente no grito na cruz que Jesus não se serve do termo Abbá (Mc 15.34) [5] JEREMIAS, Joachim. Op. Cit. p. 25. [6] Gl 4.6. [7] JEREMIAS, Joachim. Op. Cit. p. 31.

Por Rodrigo Bibo de Aquino    http://bibotalk.com.br